domingo, 2 de outubro de 2011

O BOBÃO QUE NÃO GOSTA DE LER

A … B… C… Três passos engatinhados em um mundo novo e estranho. Foram momentos de deslizes e incertezas. “O certo é ‘te amo’ ou ‘eu te amo’, fessô? O mestre respira fundo e diz com a voz azeda algo já repetido três vezes: “Não se começa frase com pronome obliquo!”. “Pronome o quê?”Dai você rala e rala tal morena d’O TCHAN até aprender. Sua. Sofre com as noites tentando decorar o que se concerta com “C” e o que é o tal conserto com “S”. Você sofre. Chora, até! Mas aprende. Sofre, mas aprende. Dai, depois de tanto lutar para aprender… você para! Parar? Depois de horas estudando o som das palavras, você para? Os livros se empilham em uma torre mais torta e vacilante que a de Pisa. E dalhe livro escorado! “É bonito, né?” Você zoa com os amigos ao ver que o livro de um tal Júlio Verne já está tão alto na pilha que, como o título, está quase chegando à lua. E você zoa! Ri que é uma beleza! Despreza as palavras sofridas que o tal Verne entortou o pulso para escrever. “É tudo invenção!” Você argumentar com aquele professor chato de “portuga” que tenta (e sofre mais que o Verne!) fazer você ler. Mas, bobão como só você, não vê que a beleza das coisas está ai: a genialidade que alguém teve ao escrever (invenção ou não) sobre o monstro mais fabuloso e melequento do mundo, sobre aventuras de um menino que adora voar sobre um tapete desfiado, porém mágico, ou, ainda, sobre um rapazinho, nem anão e nem homem, que mora em uma toca na curva de uma montanha. Mas você ri! Esquece e abre mão do mundo que está naquele pilha. Mal sabe a “fabulosidade” (tá vendo, só? palavra inventada e bonita de dá dó!) das pessoas que você pode conhecer, das vidas que pode sentir pulsar entre os dedos e ser um leitor que olha a vida dos outros bem do alto como um Deus. Um Deus que, de tanto ler, aprendeu o significado de um mundão de palavras. Tai, O Deus das Palavras! Que se prende as palavras das páginas e aprende com elas a ser um Deus melhor. Um que deixa de ser bobinho ao pensar que livro só serve como tijolo em um castelo formado por cartas grossas. Um Deus que se torna ouvinte. E escuta paciente os motivos da tal Aurélia do Alencar, ou, até mesmo, se cala para entender o que o Senhor Bentinho vê de tão interessante por baixo e dentro dos olhos de cigana de sua Capitu. Dai, curioso, você organiza a pilha e descobre as maravilhas de uma Casa à Vapor; o que acontece quando se vive Cem Anos de plena Solidão; e que se pode aprender muita coisa com uma Menina Que, justificadamente,  Roubava Livros. E você vai querer saber mais e mais e mais e mais! Vai ouvir entres as páginas suspiros melosos de Je t’ame e algumas doses forte do que seria La Petit Mort (não vou dizer o que é isso. Você vai ter que ler para saber, espertinho!). e vai sorrir e sonhar e saber falar alguma coisa quando a conversa em um grupo de amigos deixar de ser somente televisão. “Ei, vocês já ouviram a história duns carinhas assim, da nossa idade, que desvendaram um crime?”, você vai perguntar todo boçal. “Não!?”, a turma vai dizer curiosa. “É em um livro que eu li, A Droga da Obediência”. A galera vai ouvir o resto da história. E você? Vai ser o carinha inteligente que lê e que sabe das “coisas”…  Ruim essa vida? Nem tanto… Pior seria ficar em casa, rindo feito um mané, olhando um monte de livros mudos e empilhados que não tiveram a menor culpa de cair nas mãos de um bobão como você, que está terminando de ler isso e ainda pensando que ler é a maior chatice.

Nenhum comentário:

Postar um comentário